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domingo, 28 de julho de 2013

O SIMBOLISMO PORTUGUÊS

A estranheza vai fazer do simbolismo algo moderno. É de alguma maneira uma estética romântica na sua visão de mundo. De alguma maneira o simbolismo oculta a clareza, tende ao mistério.
Foi um salto para a modernidade, especialmente com Baudelaire com “As Flores do Mal 1857”, que teorizava a sinestesia. Enquanto simbolismo é mais velado, como se estivesse por trás de um véu, o romantismo é mais aberto, escancarado.
No século XIX, se instaura uma situação de crise, mudança de foco, de rumo do simbolismo para o realismo. O símbolo, no simbolismo passa a ser o elemento mais importante. “Tudo é simbolizável”. Há um abandono da representação do real para o simbólico, para o abstrato, tanto na pintura como na literatura, no teatro e como não poderia deixar de ser, também da poesia.
Essa aura de mudança caminhou para os momentos modernistas. No Brasil em 22 e em Portugal em 1915, numa série de movimentos vanguardistas, vindos de um desejo de experimentar o novo.
No simbolismo, a ideia tinha que ser sensível, ou seja, passar sensibilidade. As confissões ocultadas por detrás dos véus. O simbolismo, inclusive, deu continuidade a forma do soneto, ao prestigio do neoclassicismo.
O simbolismo Possui muito de modernidade, aberto ao acaso e ao que pode sugerir ao poeta. Pela pluralidade de sentidos, o poema simbolista precisa ser relido por diversas vezes, diferente de um poema parnasiano, por exemplo. É uma poesia muito atenta ao sonoro. O simbolismo inicia a investigação sobre o “eu” (quem sou e o que faço aqui), o que Baudelaire já fazia em As Flores do Mal, onde nada é capaz de trazer a felicidade nesse mundo vencido. O ser humano vencido por dentro, assiste a destruição por fora. Uma sociedade corrompida não pode produzir boas flores, mas apenas flores do mal. É a depressão que toma conta do ser. Quental mesmo dizia em sua obra “melhor não ter nascido”. Assim como Espanca, que se dedicou a uma poesia repleta de solidão e busca incansável por uma plenitude que jamais alcançou, algo além do perímetro de seus limites.
Se bem que não se pode dizer que Florbela Espanca fora uma simbolista, mas permite-se que ela repouse nesse âmbito, por falta de melhor lugar para a autora. Inclusive Florbela ESpanca, em seu desajuste social lembra muito Mario de As Carneiro, ambos com destino trágico, numa arte que revela uma vida mais voltada para a atmosfera do trágico do que para a alegria. Percebemos muita influencia romântica em seu discurso, e assim como aqui no Brasil tivemos Augusto dos anjos, Florbela também sente dificuldade de aderir a um único objetivo. Era como se não fizessem parte do mundo e por um lado, se orgulhavam disso. Assim como muitos outros, foram artistas que apostavam mais na morte, no valor do “nada” e da morte, do que na afirmação da vida. Por volta de 1890, tivemos Eugenio de Castro com seu livro “Oaristo” que inclusive é o livro que dá inicio ao simbolismo em Portugal e Florbela eSpanca vem posterior a esse tempo. Ainda nessa fase, tivemos as representações poéticas de Camilo Peçanha com “Clepsidra”, tendo dentro de si, já o sentimento simbolista.
Esses poetas que escolheram a descrença na vida, foram não raro, ogerizados, tidos como “poetas malditos” pelas escolhas poéticas, vida social diferenciada e olhar sensível.  Na essência do simbolismo, a junção da poesia e da música é fundamental, é uma poesia pura que privilegia a imagem e não necessariamente precisa ter uma explicação. Na verdade, incomum é que tenha. As rimas focam a musicalidade, são poemas criados para ressaltar uma sonoridade musical.
Não pode haver simbolista “feliz”.  Todos possuem uma visão trágica da vida. O simbolismo também é declamatório, justamente por essa questão da sua musicalidade. A clareza do texto é substituída por véus, símbolos e na pintura, vai tender para as imagens impressionistas que vai evoluir para as imagens abstratas. Tudo no simbolismo é diáfano.  
O simbolismo nada mais fez do que valorizar o valor do diáfano, o acaso e o poder da sugestão da palavra.  Palavras com maior conteúdo quando colocadas no verso. O simbolismo quer que as construções ocorram naturalmente, de forma espontânea e não seguindo as formas fixas e engessadas do soneto. O poema simbolista deve intrigar o leitor, trabalhando por muitas vezes na zona da ambigüidade.
Enquanto Eugenio de Castro descobriu que havia um decadentismo Na França e foi buscar o que havia de decadentismo ali, buscando “estudar” o simbolismo, enquanto Peçanha afirmava que a poesia brota de dentro do ser. A repetição de versos, tão comuns na poesia simbolista, vem da poesia trovadoresca, por causa do seu tom musical, que se repete e faz nascer um ritmo. Afinal, não há música sem ritmo. Outro fator que é inerente ao simbolismo é a sinestesia, sempre nos obrigando a ler e reler de novo. É típico do simbolismo esse tom enevoado de tristeza, o livro “Só” de Antonio Nobre, inclusive, seria o livro mais triste de Portugal, seguido de Florbela Espanca, com “Livro de Mágoas”. Antonio Nobre não foi plenamente simbolista, mas possui esse espírito triste que já vem do romantismo, certa melancolia.
No seu poema “Memória”, Antonio Nobre se vale de recursos estilísticos que tentam minimizar a grandeza dos problemas, é um poema que fala de “ser só”, de sofrimento. Fala de um destino o qual o poeta não pode escapar, porque a poesia é o destino para o poeta, para o bem e para o mal.
Esse poeta dá valor a uma linguagem coloquial, focando um material catártico, dos desencontros existenciais. Também valoriza o nacional e a natureza, tratando do exílio existencial, situação de desencontro entre si mesmo e os outros, sensação de isolamento do restante do mundo, de unicidade na vida. 

A astúcia do simbolismo sempre foi fugir da política, das amarras da poesia, se deixando representar assim pela liberdade do símbolo, pela carnavalização da tragédia, da morte, com forte apelo visual, bem como por uso de pedras preciosas e ou semipreciosas. 

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