O
SIMBOLISMO PORTUGUÊS
A estranheza vai fazer do
simbolismo algo moderno. É de alguma maneira uma estética romântica na sua
visão de mundo. De alguma maneira o simbolismo oculta a clareza, tende ao
mistério.
Foi um salto para a
modernidade, especialmente com Baudelaire com “As Flores do Mal 1857”, que
teorizava a sinestesia. Enquanto simbolismo é mais velado, como se estivesse
por trás de um véu, o romantismo é mais aberto, escancarado.
No século XIX, se instaura
uma situação de crise, mudança de foco, de rumo do simbolismo para o realismo.
O símbolo, no simbolismo passa a ser o elemento mais importante. “Tudo é
simbolizável”. Há um abandono da representação do real para o simbólico, para o
abstrato, tanto na pintura como na literatura, no teatro e como não poderia
deixar de ser, também da poesia.
Essa aura de mudança
caminhou para os momentos modernistas. No Brasil em 22 e em Portugal em 1915,
numa série de movimentos vanguardistas, vindos de um desejo de experimentar o
novo.
No simbolismo, a ideia tinha
que ser sensível, ou seja, passar sensibilidade. As confissões ocultadas por
detrás dos véus. O simbolismo, inclusive, deu continuidade a forma do soneto,
ao prestigio do neoclassicismo.
O simbolismo Possui muito de
modernidade, aberto ao acaso e ao que pode sugerir ao poeta. Pela pluralidade
de sentidos, o poema simbolista precisa ser relido por diversas vezes,
diferente de um poema parnasiano, por exemplo. É uma poesia muito atenta ao
sonoro. O simbolismo inicia a investigação sobre o “eu” (quem sou e o que faço
aqui), o que Baudelaire já fazia em As Flores do Mal, onde nada é capaz de
trazer a felicidade nesse mundo vencido. O ser humano vencido por dentro,
assiste a destruição por fora. Uma sociedade corrompida não pode produzir boas
flores, mas apenas flores do mal. É a depressão que toma conta do ser. Quental
mesmo dizia em sua obra “melhor não ter nascido”. Assim como Espanca, que se
dedicou a uma poesia repleta de solidão e busca incansável por uma plenitude
que jamais alcançou, algo além do perímetro de seus limites.
Se bem que não se pode dizer
que Florbela Espanca fora uma simbolista, mas permite-se que ela repouse nesse
âmbito, por falta de melhor lugar para a autora. Inclusive Florbela ESpanca, em
seu desajuste social lembra muito Mario de As Carneiro, ambos com destino
trágico, numa arte que revela uma vida mais voltada para a atmosfera do trágico
do que para a alegria. Percebemos muita influencia romântica em seu discurso, e
assim como aqui no Brasil tivemos Augusto dos anjos, Florbela também sente
dificuldade de aderir a um único objetivo. Era como se não fizessem parte do
mundo e por um lado, se orgulhavam disso. Assim como muitos outros, foram
artistas que apostavam mais na morte, no valor do “nada” e da morte, do que na
afirmação da vida. Por volta de 1890, tivemos Eugenio de Castro com seu livro
“Oaristo” que inclusive é o livro que dá inicio ao simbolismo em Portugal e
Florbela eSpanca vem posterior a esse tempo. Ainda nessa fase, tivemos as
representações poéticas de Camilo Peçanha com “Clepsidra”, tendo dentro de si,
já o sentimento simbolista.
Esses poetas que escolheram
a descrença na vida, foram não raro, ogerizados, tidos como “poetas malditos”
pelas escolhas poéticas, vida social diferenciada e olhar sensível. Na essência do simbolismo, a junção da poesia
e da música é fundamental, é uma poesia pura que privilegia a imagem e não
necessariamente precisa ter uma explicação. Na verdade, incomum é que tenha. As
rimas focam a musicalidade, são poemas criados para ressaltar uma sonoridade
musical.
Não pode haver simbolista
“feliz”. Todos possuem uma visão trágica
da vida. O simbolismo também é declamatório, justamente por essa questão da sua
musicalidade. A clareza do texto é substituída por véus, símbolos e na pintura,
vai tender para as imagens impressionistas que vai evoluir para as imagens abstratas.
Tudo no simbolismo é diáfano.
O simbolismo nada mais fez
do que valorizar o valor do diáfano, o acaso e o poder da sugestão da palavra. Palavras com maior conteúdo quando colocadas no
verso. O simbolismo quer que as construções ocorram naturalmente, de forma espontânea
e não seguindo as formas fixas e engessadas do soneto. O poema simbolista deve
intrigar o leitor, trabalhando por muitas vezes na zona da ambigüidade.
Enquanto Eugenio de Castro
descobriu que havia um decadentismo Na França e foi buscar o que havia de
decadentismo ali, buscando “estudar” o simbolismo, enquanto Peçanha afirmava
que a poesia brota de dentro do ser. A repetição de versos, tão comuns na
poesia simbolista, vem da poesia trovadoresca, por causa do seu tom musical,
que se repete e faz nascer um ritmo. Afinal, não há música sem ritmo. Outro
fator que é inerente ao simbolismo é a sinestesia, sempre nos obrigando a ler e
reler de novo. É típico do simbolismo esse tom enevoado de tristeza, o livro
“Só” de Antonio Nobre, inclusive, seria o livro mais triste de Portugal, seguido
de Florbela Espanca, com “Livro de Mágoas”. Antonio Nobre não foi plenamente
simbolista, mas possui esse espírito triste que já vem do romantismo, certa
melancolia.
No seu poema “Memória”,
Antonio Nobre se vale de recursos estilísticos que tentam minimizar a grandeza
dos problemas, é um poema que fala de “ser só”, de sofrimento. Fala de um
destino o qual o poeta não pode escapar, porque a poesia é o destino para o
poeta, para o bem e para o mal.
Esse poeta dá valor a uma
linguagem coloquial, focando um material catártico, dos desencontros
existenciais. Também valoriza o nacional e a natureza, tratando do exílio
existencial, situação de desencontro entre si mesmo e os outros, sensação de
isolamento do restante do mundo, de unicidade na vida.
A astúcia do simbolismo
sempre foi fugir da política, das amarras da poesia, se deixando representar
assim pela liberdade do símbolo, pela carnavalização da tragédia, da morte, com
forte apelo visual, bem como por uso de pedras preciosas e ou semipreciosas.
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